Eu não vou passar o dia de amanha a pensar no passado.
Porque tu me ensinaste que o amanha será sempre melhor.
Então eu recordo hoje, a sorrir, tudo o que me deste.
Quando a tia e a prima faleceram, naquele sábado de manha.. pensei, por muitos anos, que aquele iria ser o episódio mais triste da minha vida. Eu tinha 5 anos, tal como a prima. E via-a morrer.. Ali, à minha frente. Eu vi a tia morta. E vi o tio desmaiar quando recebeu a noticia. Senti, durante anos o tio a confundir-me com a filha dele. A dor dele. Eu tinha perdido a minha melhor amiga. E tu tinhas perdido a tua. E o tio.. o tio tinha perdido a família dele. ASSIM..
E da minha infância, é o que recordo.
Mas tu, sempre me disseste que a vida não acabava ali. E tornamo-nos a melhor amiga uma da outra. 23 anos de diferença que nunca impediram que nos entendessemos tão bem.
Passeamos tanto.
Conversamos tanto.
E nada me chateava tanto como quando te atrasavas a chegar do trabalho. Ficava logo preocupada, tamanho era o medo de te perder. Lembro-me de todos os dias estar à esperinha da hora de chegares, para me dares aquele beijo, vestires uma roupa mais prática e irmos dar a voltinha. Era tão bom.
Depois, um dia, pela primeira vez, não me ajudaste a estudar para um teste de matemática. Fiquei tão zangada. Ainda hoje me arrependo. Tu já não tinhas força para me ajudar. Ainda assim tentaste. Estavas no quarto e eu estava na sala a resmungar tanto que ainda apareceste para me ajudar. Mas não conseguias mesmo.
Passado pouco tempo fui contigo fazer a eco. E tivemos aquela noticia. Parecia que tinha o mundo a cair-me em cima.
Saíste da sala e sentaste-te cá fora no muro. E choraste. Eu ainda não sabia o que se passava e chorei por te ver chorar. A primeira coisa que me disseste foi "sou nova, mas já tive o melhor que a vida me podia dar: tu e o teu irmão. Não posso pedir mais". Foi quando entendi, mesmo antes de me explicares. A partir dai, tivemos um mês duro. Lembro-me que até quando não aguentavas mais com dores e todos diziam para ires para o hospital, tu chamaste-me e disseste "eu vou para o hospital se tu achares que devo ir, senão não vou e fico contigo". Eu tinha 15 anos, Mãe. Disse para ires, que tinhas de ir para melhorar. Fomos. Como doeu deixar-te naquela noite. E em todas as noites até ao dia da operação.
Por incrível que pareça, quando recebi a noticia da tua morte, tinha adormecido há pouco. Tinha finalmente conseguido adormecer depois de uma semana.
Eu não queria acreditar.
Eu não podia acreditar.
Eu não te podia perder.
Mas perdi. ASSIM..
Sonhamos tanto com a tua velhice e olha..
Depois morreu o tio Z., a tia R...
E agora a morte da tia O.. Esta voltou a doer muito. Muito mesmo.
Sei que vocês estão aí todas para mim, para nós..
Amo-te. Amo-vos.
E amanha, dia 10 (faz 10 anos que morreste) sei que vou sentir paz.. sei que há 10 anos que estás aí por mim, pelo mano, por nós todos..
:(
quinta-feira, 9 de abril de 2009
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